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Prato do Dia: Via Graça, em Lisboa

Quase incrustado no castelo de S. Jorge, o Via Graça é um dos mais belos promontórios de Lisboa. É também o espaço restaurativo em que o grande empresário e chef João Bandeira exprime o seu manifesto.

De dia temos a capital a nossos pés, de noite sonhamos alto. Cozinha-se na excelência sem contemporizações, a brigada de cozinha é excelente e a garrafeira é copiosa em títulos e estilos. Devo a estas paredes e grandes janelas alguns dos meus momentos mais felizes à mesa, ao longo das mais de três décadas em que aqui venho.

As entradas configuram perfeição e, antes de tudo começar, vem para a mesa pão ainda morno de massa mãe e manteiga de cabra com pó de salsa. A muxama de atum é fatiada bem fininho e é muito saborosa. Há um tártaro do lombo que vem com tutano e gema fumada e é servido com garbo no próprio osso.

Está disponível uma deliciosa degustação de presuntos, de porco ibérico, vaca, pato e atum, este último francamente original. Um simples croquete de vitela à transmontana é todo um tratado petisqueiro. E um pastel de bacalhau é de requinte inédito. Gosto muito do camarão ao alhinho, textura perfeita e pináculo de sabor. É petisco de nível supremo.

Nos peixes a oferta é copiosa e é sempre de perguntar qual a oferta do dia. Mas que isso não desvie ninguém dos pratos com história neste lugar da Graça. Caso do bacalhau à Brás, emblema que sempre me lembro de ver e comer aqui. João Bandeira é um dos grandes obreiros nacionais de bacalhau e esta singela preparação mostra isso claramente. É sofisticado e sápido o camarão tigre com massa fresca e caviar que a prodigiosa brigada proporciona. O polvo à lagareiro é imperdível, tudo certo e no ponto. Assim como o arroz de bivalves com filete de peixe do dia, cremoso e intenso.

Nas carnes, sou fã incondicional do tornedó Rossini, ligação sublime com o foie gras. Sou consumidor ávido da empada de caça que aqui se faz. E o arroz de pato e foie gras redefine o prato clássico, majorando-lhe a grandeza. Os amantes de boa carne vão adorar o naco de vaca Arouquesa com 40 dias de maturação. É uma delícia.

Termina-se sempre bem a refeição com o maravilhoso leite-creme de Tia Aida ou com uma bela sericaia com gelado e ameixa de Elvas. Ou ainda com um belíssimo pudim abade de Priscos. Fundamental é permanecer e deixar o tempo escorrer vagarosamente à mesa, com um licoroso bem escolhido e melhor servido. Não há duas refeições iguais no Via Graça.

Com Lisboa aos pés, este restaurante de tradição mantém-se bem vivo após 30 anos de serviço e claro que só poderia ser pelas melhores razões, as mesmas que têm vindo a fidelizar tantos clientes e a fazer deste um espaço a revisitar pelos próximos 30.

Excerto do “TSF Lifestyle” / por Fernando Melo

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